Magnífico Prof. Me. Hidelbrando dos Santos Soares, Reitor em exercício da Universidade Estadual do Ceará,
Exmo. Sr. Francisco Adelmo, Prefeito Municipal de Potiretama,
Ilmo. Prof. Me. José Nelson Arruda, Coordenador Geral do FECOP/UECE,
Ilmo. Sra. Profa. Mestre Kátia Cristina Cavalcante de Oliveira, Coordenadora do Curso de Letras de Potiretama e demais autoridades,
Meus colegas professores e funcionários da Uece,
e, muito especialmente, caros colegas formandos do Curso de Letras de Potiretama, cuja formatura comemoramos hoje, e seus familiares,
bem como a todas e a todos que se fazem presentes a esta importante solenidade.

Começo o meu discurso fazendo a seguinte ponderação: no estado democrático de direito é cabível algum tipo de censura ou preocupação em relação ao discurso a ser proferido por um docente do Ensino Superior? Penso que não, pois se deve dar o direito de se enunciar os pensamentos e ideias coadunadores ou não dos donos do poder. Dessa forma, fica aqui o meu protesto para a organizadora desta cerimônia, que solicitou tanto este discurso.
Feito este protesto, propor-me a refletir sobre a universidade brasileira a partir do que nos ensina o douto Milton Santos ao dizer que:
quando a universidade pede aos seus participantes que calem, ela está se condenando ao silêncio, isto é à morte... A fidelidade reclamada não pode ser à universidade, e a ela não temos razão para ser fiéis. Nossa única fidelidade é com a idéia de universidade. E é a partir da ideia sempre renovada de universidade que julgamos as universidades concretas e sugerimos mudanças. De outro modo, compactuamos com equívocos e erros e acabamos, nós próprios, praticando equívocos e erros.
Dessa forma, devemos entender que universidade não é time de futebol e nós não somos "fiéis torcedores", pois o que deve nos guiar é um ideal de universidade sempre renovado pelas nossas experiências, reflexões e ações. Essas experiências são oriundas das diversas esferas da atividade humana que, como nos ensina Bakhtin (1997), em seu livro Estética da criação verbal, emanam no seio familiar e se transmutam ao longo da vida. As reflexões também se originam no âmbito familiar, mas se especializam pelos engajamentos políticos, morais, ideológicos e éticos. E as ações são resultados dessas experiências e reflexões dos sujeitos, que são, como nos ensina Koch (1997), em seu livro Desvendado os segredos do texto, construídos e se constroem na e pela linguagem, como aprendemos durante o Curso de Letras nas aulas de Linguística.
Diante disso, devemos como sujeitos psicossociais discutirmos e agirmos efetivamente defendendo nossas posições na arena política, moral, ideológica e ética fazendo valer nosso ideal de universidade para que sejam fortalecidas e construídasposições, ideias e projetos em cada uma dessas arenas. Assim, nós poderemos participar efetivamente das decisões políticas, suplantando sua condição de subalternidade que os mantem a reboque de projetos pessoais de poder.
Até porque como preconiza a Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, in verbis:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]
Dessa maneira, a nossa Lex Fundamentallis determina que os administradores da res publica devem seguir os princípios constitucionais para que possamos, como nos ensinou o Papa João XXIII na Encíclica Mater e Magistra, atingir o tão almejado bem comum, que "(...) consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam no desenvolvimento integral da pessoa humana". Este conceito papal deu um impulso grandioso para a concepção dos direitos sociais como fundamento para que os Estados Sociais promovessem o tal bem comum.
Ora na Universidade estes direitos sociais não podem ser negados, pois a educação é um bem comum, um direito e garantia fundamental, previstos no art. 5º da Nossa Carta Política, ipsis verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Sendo assim, devemos observar que para atingirmos obem comum, no âmbito da Educação Superior, os donos do poder devem se pautar não no interesse pessoal, mas no interesse coletivo; não na pessoalidade, o que é mais comum nas Administrações Públicas, mas impessoal; não da ilegalidade ou manobras políticas, mas na legalidade, até porque somos servos da lei nos dizeres do grande doutrinador do Direito Administrativo, Hely Lopes; não na imoralidade, como a definiu Kant, mas na moralidade, isto é, nos valores condizentes com a moral, a boa-fé e os bons costumes; não em atos secretos, mas na publicidade, com a transparência, inclusive, foi criada uma lei para regulamentar este princípio, a Lei da Transparência dos atos da Administração Pública; não na morosidade, mas na eficiência, ou seja, na prestação de serviços com boa qualidade, sem demora, sem clientelismo, sem favoritismo, sem coloração partidária, a fim de que se respeitem os direitos dos indivíduos, apesar de vermos, sobretudo nas cidades interioranas e nos anos eleitorais, como este, e na universidade, o contrário de tudo isso.
Assim, sem o atendimento a estes princípios constitucionais previstos, não teremos nenhuma mudança revolucionária na sociedade. Mas, se esta mudança não ocorre pelos poderosos, esta, como alertava Milton Santos, deve vir de baixo, dos menos abastados, dos fracos, pois "a força dos fracos é seu tempo lento".
Portanto, prezados formandos do Curso de Letras de Potiretama usem este diploma que hoje lhes são conferidos nesta manhã para concretizarem o bem comum de vocês, dos seus alunos, colegas de trabalho, amigos e de toda sociedade potiretamense. Isso deve ser feito através desta lhaneza tão peculiar deste povo, que, desde o início deste curso, em 2007, recebeu-me tão bem e que, durante as várias disciplinas ministradas ao longo destes quase cinco anos de graduação, concedeu-me, juntamente com os seus familiares, hospedagem, rede para dormir, refeições e sem contar a boa conversa às noites após as aulas e durante os almoços no Sr. Cosmo, na Ecivalda, no Bar do Maurício, na Barragem e até no Trapiá. Inclusive, a cessão de suas casas, às vezes até do seu dormitório, pois o computador fica lá, para, nesta etapa final de curso, corrigíssemos as monografias, haja vista que a escola, à qual agradecemos na pessoa do Diretor Uberlândio, por nos ter aguentado durante todo este lapso temporal, não nos suportava depois das 22h, e ao Prefeito, por nos conceder hospedagem durante este período, tendo esta se iniciou na casa da Fatinha, como a conhecem, até chegarmos à casa de apoio dos enfermeiros. Muito obrigado em nome de todos os professores.
Muito obrigado, sucesso e tenham coragem, pois como nos ensina Guimarães Rosa, na obra Grande Sertão: veredas, a vida tem hora que esquenta, esfria, mas para vencê-la é preciso ter coragem. Por isso, tenham coragem para enfrentá-la, pois a graduação é apenas o começo de uma nova etapa da vida acadêmica e profissional.

Prof. Lailton Duarte – orador discente na colação de grau do Curso de Letras de Potiretama realizada em 19 de setembro de 2012, às 10h, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro – Potiretama-CE.