Por Eraldo Paulino, assessor de comunicação da Cáritas Crateús-CE
José Maria Filho, mais conhecido como Zé Maria do Tomé, por lutar contra o agronegócio, o uso de agrotóxicos e pelos direitos dos/as pequenos agricultores/as da Chapada do Apodi foi executado no dia 21/04/2010 com 25 tiros. No dia 05 do mês 05 deste ano cerca de 500 famílias ocuparam o 2º perímetro irrigado da Chapada do Jaguaripe/Apodi, em Limoeiro do Norte/CE. Animam a ocupação o Movimento 21, nascido após o martírio desse companheiro e composto pela Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, MST, Conlutas, FAFIDAM/UECE, UFC/TRAMAS, CPT Ceará, STTR do Apodi, além das paróquias da diocese e estudantes.
“Ontem (08/04) o dia todo foi de tensão, pois o oficial de justiça chegou acompanhado da polícia para entregar o mandado de reintegração de posse, mas as famílias disseram que só iriam embora se ele tivesse trazido 1000 folhas do documento, caso não que fosse embora”, comentou Anjerlina Souza, agente Cáritas que se reveza com o restante da equipe para acompanhar e vivenciar dores e delícias do acampamento desde o processo de construção deste. Segundo ela, o oficial saiu após a resistência camponesa, mas disse que voltaria com reforço policial. Então os movimentos pressionaram representantes do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOSC), conseguindo de imediato a suspensão.
Os ocupantes vetaram o fornecimento de água para o agronecógio na região, por isso existe a pressão por ambos os lados em mais esse episódio da luta de classes por uma posição do governo, antes que setores ligados a fazendeiros possam agir por conta própria. Na manhã de hoje (09/05) representantes das/os trabalhadoras/es reuniram-se com representantes do DNOCS, da Gerência Central do INCRA, do Governo do Estado e o promotor Luiz Carlos do MPF que deliberarem entre outras coisas pela Reintegração de Posse seria derrubada.
JÁ SÃO 800 FAMÍLIAS ACAMPADAS
“Quando a gente começou pensamos que o fato de Zé Maria ter sido assassinado por essa luta amedrontaria as pessoas, mas já começamos a ocupação com 500 famílias. É muita gente pra ser organizada, cadastrada, e isso tem dado um pouco de trabalho”, relata Anjerliane. Segundo o militante do MST Robson Silva, mais conhecido como “Robinho”, todos os dias dezenas de famílias sobem para o acampamento, já chegando ao número de 800. “Estamos encontrando dificuldade para conseguir lona preta para cobrir as barracas”, comentou.
Robinho afirma ainda que graças à participação das paróquias e a doação de várias pessoas a alimentação para as famílias não está em falta. “Quando a igreja apoia essa luta está querendo seguir o evangelho que prega a justiça e a vida em abundância. A terra e a água são presentes de Deus, que não devem servir apenas para grileiros ou latifundiários e sim para todas as famílias e pequenos agricultores, mesmo que o governo não queira”, argumentou Padre Junior. Ele defende que com as bênçãos de Deus e com a força do povo a chapada do Jaguaripe/Apodi vai voltar a ser das trabalhadoras e dos trabalhadores.
ENTENDA O CASO
Em nota as organizações envolvidas com acampamento denunciam que este território está disputa desde a implantação, na década de 80. Nos anos 2000 os conflitos intensificaram-se com a instalação de empresas transnacionais e internacionais produtoras de frutos locais para exportação, aproveitando-se da irrigação oriunda da chapada e dos recursos naturais da região. Além disso, segundo dados do próprio DNOCS cerca de 4 mil hectares dessa localidade foram invadidos pelo agronegócio. Apenas três empresas, a Fruta Cor, Bananas do Nordeste S/A (Banesa) e Del Monte Fresh Produce são responsáveis pela invasão de 1.800 hectares sem que até hoje nenhuma força policial tenha ido lá retirá-los do local, mesmo após a detecção oficial desse crime fundiário pelo governo.
Há cinco anos o DNOCS não toma providência concreta para incluir pequenos agricultores num projeto que desde a implantação expulsou camponesas/es de suas terras. Antes produziam alimento e mantinham relações de identidade com o território, hoje estão medindo forças com o governo e as grandes empresas. Em contrapartida o uso de agrotóxicos pelo agronegócio tem ocasionado a elevação em 38% nos casos de câncer nos municípios dessa região, além da contaminação da água e do solo.
Por tudo isso as acampadas e os acampados exigem do Governo Federal:
Ø  Destinação das terras ociosas e griladas nos perímetros irrigados para a reforma agrária baseada na agricultura camponesa e agroecológica;
Ø  -Assentamento das famílias acampadas no Ceará;
Ø  -Garantia de água para consumo humano e produtivo;
Ø  -Solução dos problemas da seca;
-Não fechamento de escolas do campo;
-Alfabetização de jovens e adultos;
-Não privatização dos assentamentos;
-Projetos de infraestrutura produtivas e hídricas;
-Assistência técnica nos assentamentos;
-Construção de moradias e escolas para as famílias;
-Agilidade na punição dos mandantes da execução de Zé Maria do Tomé;
-Implantação do CERESTA Zé Maria Tomé com concurso público;
Fonte: Cáritas Brasileira. Disponível no site <http://caritas.org.br/resistencia-e-esperanca-marcam-acampamento-na-chapada-do-apodi-ceara/25756>. Acesso: 13 abr. 2014.