http://www.espacoacademico.com.br/022/22csilva.htm
Em maio de 2000, o geógrafo Milton Santos, escreveu um texto para a Folha de São Paulo, falando da situação do negro naquele ano. Para o autor,

"Há uma frequente indagação sobre como é ser negro em outros lugares, forma de perguntar, também, se isso é diferente de ser negro no Brasil. As peripécias da vida levaram-nos a viver em quatro continentes, Europa, Américas, África e Ásia, seja como quase transeunte, isto é, conferencista, seja como orador, na qualidade de professor e pesquisador. Desse modo, tivemos a experiência de ser negro em diversos países e de constatar algumas das manifestações dos choques culturais correspondentes. Cada uma dessas vivências foi diferente de qualquer outra, e todas elas diversas da própria experiência brasileira. As realidades não são as mesmas. Aqui, o fato de que o trabalho do negro tenha sido, desde os inícios da história econômica, essencial à manutenção do bem-estar das classes dominantes deu-lhe um papel central na gestação e perpetuação de uma ética conservadora e desigualitária. Os interesses cristalizados produziram convicções escravocratas arraigadas e mantêm estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão, por menor que seja, dos negros na escala social sempre deu lugar a expressões veladas ou ostensivas de ressentimentos (paradoxalmente contra as vítimas). Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e, mesmo, não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera nenhuma forma de discriminação ou preconceito". (Para ver o texto completo clique aqui)

Quando o tema é o problema do negro no Brasil a marca predominante é a ambivalência com que a sociedade branca dominante reage, fazendo com que toda discussão ou enfrentamento do problema torne-se uma situação escorregadia, pois para a classe branca dominante "feio não é ter preconceito de cor, feio é manifestá-lo".
 
A situação da mulher negra no Brasil de hoje, conforme a Professora Maria Nilza da Silva, da Universidade do Estadual de Londrina, "manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, porém com rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial". (Para ver o texto completo clique aqui).
 
Isso nos leva a pensar de forma mais profunda nos grandes abismos socioeconômicos, políticos, culturais e educacionais nos quais vivem as populações negras de nosso país e no longo caminho a percorrer até que se complete o processo de abolição da escravidão e das mazelas causadas por ela.
 
Por Francisco Antonio da Silva
Prof. do Curso de História da FAFIDAM
Assessoria de Comunicação