E de novo chegamos à época das festas. Como num ciclo inexorável, nos encaminhamos mecanicamente para as festas de fim de ano, para as confraternizações natalinas, para as automáticas congratulações de boas festas.

Tão inexoráveis, tão automáticos são os eventos de dezembro, tão irrefletidos são os votos de felicidades para os tempos vindouros que chegam a se esvaziar completamente de seu sentido aparente.

Afinal confraternizar significa, segundo o velho Aurélio, “Ligar, unir como irmãos; irmanar”. Confraternizar, portanto, implica estabelecer vínculos cada vez mais profundos entre homens e mulheres, “uni-los como irmãos”. O verbo, contudo, tomou o sentido de festejar, tão somente, muito longe do celebrar os vínculos propriamente humanos entre nós.

Com efeito, a confraternização, se a podermos realizar, seria uma ação profundamente subversiva da vida social atual, onde o que se impõe é a, ao contrário, o valor da competição (não ouvimos todos os dias que o país precisa alcançar novos e mais elevados graus de competitividade?), a exaltação da produtividade sem medidas e sem sentido.

E é essa proposta subversiva de confraternização que nosso sindicato, a SINDUECE, traz para a comunidade. A proposta de uma confraternização que invoque não somente o brinde fugaz e o cumprimento mecânico, mas a “união como irmãos”, que não pode ser senão um rompimento com a competição, substituída pela cooperação, com a produtividade cega, substituída pela produção dos valores e dos bens voltados verdadeiramente para a manifestação plena de nossa humanidade.

O que trazemos aqui é este apelo a uma confraternização que não pode ser universal a não ser que comece pela confraternização entre iguais, entre os que vivem do trabalho, entre os que sofrem em comum justamente os efeitos da pressão produtivista e competitiva que nos jogam, todos os dias, uns contra os outros, numa luta não fraternal, mas fratricida, que só vem em benefício dos que não estão submetidos a este estado de coisas. É nossa confraternização particular, como trabalhadores que pode promover uma verdadeira confraternização universal.

Mas esta não é uma reflexão distante de nossa realidade cotidiana: agora mesmo, é nossa existência, como universidade, e como trabalhadores da universidade, professores e servidores técnico-administrativos, que se encontra ameaçada.

Pois não foi agora mesmo, como um estranho presente de fim de ano, que o Governador Cid Gomes anunciou na nossa cara que pretende, num prazo que não podemos determinar, retirar o Estado da oferta de ensino superior, isto é, no limite, extinguir nossa instituição?

Não foi nesses dias que o mesmo governador se pronunciou contra qualquer reposição de professores aposentados e contra qualquer iniciativa de expansão da UECE, condenando a categoria dos professores a uma lenta, mas inexorável extinção?

Não é neste momento que o mesmo Governo manifestou a visão de que os servidores técnico-administrativos devem ter seu lugar ocupados por trabalhadores terceirizados, superexplorados, excluídos dos direitos trabalhistas, ao invés de acolhert estes trabalhadores precarizados pela via concurso público?

E tudo isso não é dito em nome de aumentar a produtividade e a competitividade? Não vem tudo isso contra o sentido da confraternização, do “unir como irmãos”? Não surgem todos essas coisas como exemplo justamente dessa ideologia da competição que nos joga todos contra todos para ver, no caos, quem segura seu próprio emprego, mas no contexto da destruição da instituição universitária?

Companheiros e companheiras,

Encerramos nossa mensagem, neste dia tão raro em que nos damos o direito de nos encontrar, deixando uma pergunta: numa hora como essa, nosso espírito de natal não precisa ser um espírito de luta?
 
A Diretoria da SINDUECE
 6 de dezembro de 2012